A bagunça que eu fiz.
As portas do elevador abriram e eu olhei pra ele... Tinham tantas coisas entaladas na minha garganta, mas não importava o quanto eu abria a minha boca, elas não saiam.
Aqueles olhos tristes me encararam pela ultima vez e finalmente as portas se fecharam de novo, eu sabia que tinha acabado, eu sabia que não iria mais ver ele e o pior de tudo eu não fiz nada pra impedir... Fiquei lá encarando o vazio, esperando que magicamente eu acordasse de um devaneio, de um longo pesadelo, então eu olharia para a tela do celular e como outro passe de mágica ele estaria me ligando. Estaríamos bem, estaríamos juntos de novo.
Se passaram alguns minutos e eu finalmente me movi, não sei por onde eu fui mas de algum jeito eu acabei no meio da rua andando sem caminho por uma calçada cheia de pessoas vazias, cheia de sorrisos bobos e olhares tristes.. É incrível como as pessoas estão sempre perdidas em seus mundinhos e não reparam nas coisas mais óbvias que estão a sua frente, eu já tinha passado por pessoas chorando diversas vezes na minha vida, mas nunca parei para ao menos perguntar se elas queriam ajuda. Agora eu era a pessoas chorando e tudo o que eu queria era que alguém me parasse, que alguém me abraçasse, eu precisava de alguém que me desse coragem, que me desse uma solução.
Depois de algum tempo andando por ruas que eu não conhecia mais, eu parei e sentei em um banco de um ponto de ônibus qualquer. Comecei a pensar em tudo o que eu não disse, comecei a duvidar se existia volta, se tinha algo que eu pudesse fazer para que aquilo tudo acabasse e a minha vida voltasse ao normal. Com o tempo entendi que não, que tudo o que precisava ser feito era seguir em frente e com esse pensamento eu caminhei de volta pra casa.
O sol já estava se pondo e a cada esquina que eu virava tinha uma nova memoria para me assombrar.
Passei pela joalheria e lembrei o dia que passei por aquele lugar e o vi escolhendo meu anel de noivado, não tinha certeza se o anel estaria em casa quando eu chegasse. No dia eu me fiz de boba, óbvio, mas por dentro eu estava tão ansiosa que meus ouvidos estavam queimando. Ele tirou o anel no meio da nossa janta "casual", quando ele disse as palavras eu não sabia se pulava, não sabia se gritava sim, não sabia como reagir mesmo que eu tivesse passado as horas anteriores planejando como reagir.
Passando pela igreja me lembrei da vez em que nos perdemos pela paulista e acabamos comendo um hot dog do lado de fora de uma igreja, que na época era desconhecida, enquanto falavamos sobre flores.
Passando pela livraria me lembrei de todos os livros que havíamos trocado durante a adolescência e quando passei pela banca me lembrei da época do cursinho.
Até as pequenas praças tinham algum significado, a minha maior e melhor lembrança era um aniversário dele que eu tentei fazer surpresa pendurando fotos nossas nos galhos da arvore e fazendo um piquenique surpresa, porém um segurança fez eu tirar as fotos e quando ele chegou eu estava quase sendo presa por me recusar "tirar o bolo do gramado".
As piores lembranças vieram quando eu entrei no prédio, cada cantinho tinha algo nosso, literalmente. No elevador tinha uma carta de conscientização que havíamos escrito juntos na esperança de que os vizinhos jogassem menos lixo no chão da pequena praça que tinha lá perto; no corredor tinham diversas marcas de tintas, uma caixa com flores, o tapete que ele tinha escolhido, a porta tinha um pequeno Darth Vader que ele tinha me dado no dia dos namorados....
Assim que abri a porta vi um post it, o mesmo post it que eu li na noite anterior, o mesmo post it que começou com toda essa confusão. Nele dizia "Te vejo na igreja", me lembrei de como eu fui idiota ao dizer que não tinha certeza pra minha mãe, da minha estupidez ao devolver o vestido e ter que alugar um novo, a minha burrice em esquecer o buquê, mas o pior de tudo.... Eu me lembrei do maldito momento em que eu bebi vodka com minhas amigas e disquei o número dele, tudo o que eu falei pra ele, lembrando de todas as coisas ruins que havíamos feito um pro outro, dizendo todas as minhas inseguranças. E quando ele foi me buscar. ainda todo cuidadoso, eu me lembro dos seus olhos marejados enquanto eu dizia que planejava deixar ele no altar, enquanto eu dizia que nunca quis aquilo... Eu não queria um casamento, eu queria ele do meu lado e se eu precisasse usar um anel na minha mão pra ter isso, eu faria. Porém não pensei em nada disso enquanto o alchool corria pelas minhas veias, só fui pensar nisso quando acordei no dia seguinte com o barulho dele fechando a mala, quando olhei na tela do meu celular e vi diversas mensagens exigindo explicações sobre o casamento, quando a mãe dele não me atendia mais.... Pensei nisso quando entrei na cozinha e não vi os livros de culinária, pensei nisso quando não vi mais as nossas fotos, pensei nisso quando passei pela porta da minha própria casa e me senti como em um lugar desconhecido, me senti perdida.
Obrigada por ler
Amo todos vocês
-Fangirl
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